Fraudadores usaram modernos equipamentos para enviar respostas aos candidatos - Polícia Civil
BELO HORIZONTE — O Ministério Público e a Polícia Civil mineiros confirmaram nesta quarta-feira fraude no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano. Os órgãos, responsáveis por operação que desarticulou organização criminosa especializada em burlar vestibulares, garantem ter prova de atuação e candidatos beneficiados — e já identificados — em Mato Grosso, mas estão convictos de que a quadrilha atuou em todo o país. As investigações continuam em andamento e já resultaram na prisão de 34 pessoas.
A organização criminosa, cujos dois líderes viviam em mansões nos municípios de Teófilo Otoni, cidade do interior mineiro a 450 km de Belo Horizonte, e Guarujá, no litoral paulista, usava equipamentos eletrônicos de alta tecnologia para transmitir as respostas do exame nacional. A partir de um dispositivo que se assemelha a um cartão de crédito, o candidato participante do esquema recebia a transmissão e ouvia as respostas em um ponto no ouvido.
Os investigadores flagraram a quadrilha atuando neste Enem, nos últimos dias 8 e 9 deste mês, na cidade mato-grossense de Pontes e Lacerda, a 450 km de Cuiabá. Lá, o grupo conseguiu os cadernos de prova 10 minutos antes do início da prova e, com quatro estudantes e professores universitários em uma pousada, resolveram as questões e passaram aos clientes.
— Eles substituíam as letras de cada questão por números. Um era a, dois era b e assim por diante. Então, os líderes, a partir de um carro com o rádio transmissor, passavam, por exemplo, a seguinte mensagem: 'um barra 12.541, 53.215'. Eles queriam dizer que, no primeiro caderno, a primeira questão era a, a segunda b, a terceira e e assim por diante — explica o delegado da Polícia Civil à frente do caso, Antônio Junio Dutra Prado.
A polícia e o MP afirmam já ter identificado ao menos dois aplicadores do Enem que entregaram os cadernos ao grupo. Eles não descartam a atuação de outros integrantes da aplicação do exame. Os investigadores já identificaram e qualificaram dois estudantes que se beneficiaram do esquema, mas afirmam ter informação que comprovam ao menos 15 beneficiados.
— O líder que morava em Teófilo Otoni afirmou que lucraria R$ 3 milhões líquidos apenas nos concursos entre outubro e janeiro de 2015. Estamos só arranhando a superfície — diz o promotor de Justiça, André Luis Garcia Pinho, da Promotoria de Combate ao Crime Organizado.
Em relação ao Enem, o próximo passo da operação, batizada de Homeóstase 2, é encaminhar o inquérito ao Ministério Público Federal. Os investigadores não descartam que o Enem deste ano pode ter sido prejudicado pela quadrilha e também acreditam que outras edições podem ter tido a participação do grupo - o líder que morava em Guarujá atua no ramo há 20 anos.
Desde domingo, 12 integrantes, entre estudantes e professor universitários, médico e policial civil, foram presos. Outros 22 alunos foram flagrados participando do esquema no vestibular da Faculdade Ciência Médicas de Minas Gerais, realizado no último domingo. Todos foram ouvidos e liberados — parte deles, mediante fiança.
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